domingo, 21 de setembro de 2014

NÃO SEJA TOLO, MILAGRES NÃO EXISTEM.





A velha sentada na cadeira de rodas sorria. O negão que roubou sua bolsa levou sua Smith 45 preparada por seu falecido marido, ex- armeiro da policia, exatamente para um caso deste.

A artimanha consistia num engenhoso, porém simples sistema, a bala da vez ficava normal dentro do tambor, as outras sete eram colocadas viradas para a culatra do revólver, quando a espoleta da bala da vez era explodida a bala da vez sendo lançada não saia pelo cano, porém acionava pequenos gatilhos, então pequenos martelos detonavam as espoletas das outras balas para trás.


- Entendeu? Em resumo; O meliante perdia os dedos e ficava com um enorme buraco fumegante no lugar do olho que fazia a mira.

O Ladrão correu pela viela, seu vulto esguio na neblina do entardecer parecia um personagem em sombra cinza azulada de um thriller. Menos de um quarteirão adiante entrou num beco escondeu-se atrás de uns containers de lixo, ofegante abriu a bolsa e deparou-se maravilhado com aquele canhão, viu um gato se esgueirando pelo beco, ansioso por testar aquela maravilha bélica se ajeitou alinhando a coluna contra uns sacos de lixo úmidos e melados por uma gosma pegajosa, sentindo-se confortável no meio daquele fedorão sorriu, então colocou o meio do cano, daquele canhão em cima do joelho esquerdo e procurou com o olho direito colocar o bichano na alça de mira, deu sorte, um carro passando com os faróis ligados o iluminou bem na hora de um miau.
Puxou o gatilho viu um enorme clarão, no entanto pelo fato de sua cabeça ter se desintegrado não chegou a escutar o estrondo. O gatinho assustado pulou do chão para cima do capô de uma Van, dali para cima do Baú. Ficou por uns instantes ali, sua imagem uma sombra cinza imóvel recortada pela luz da lua parecia tentar entender o que se sucedeu.

A velha Sra. ainda com um sorriso irônico entrou no prédio de aptos onde morava, conversou amenidades com o porteiro, que gentilmente lhe abriu a porta do elevador, havia escutado o estrondo, que lhe era familiar, sabia que como das outras vezes, os ex-colegas policiais de seu falecido marido viriam lhe devolver o velho “Ferrolho” e que discretamente, mesmo que jamais oficialmente, lhe agradeceriam pela ajuda em limpar a cidade desses sujeitos sem escrúpulos, principalmente esses que não poupam Velhinhas indefesas.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O aluguel da casa dos fundos.






- Me pague na terça-feira.

O Sr. Que sabe...!

-É...

-Porque não na segunda de noite então?

-É que vou morrer na quarta de noite, então essa merreca não vai me servir para nada.

- Quarta?! – Puxa!... E se o Senhor Morresse na quinta, poderíamos almoçar juntos, as crianças, o senhor sabe elas vão sentir sua falta e...

- Quinta não eu já cansei de esperar.

- Ora o que é na vida um dia a mais diante da eternidade na morte?

-Não sei morrer se tornou importante para mim, estou muito cansado.

Puxa eu estou louco que o Senhor morra de uma vez, mas é pelas crianças o Sr. sabe que elas o adoram.

- Esta bem então pelas crianças eu morrerei na quinta depois do almoço, e nem uma hora a mais.

O Sr. que sabe...

E o aluguel? Pra quem eu pago?



quarta-feira, 16 de julho de 2014

VINTAGE






Tem dias que acontecem coisas e na hora a
gente nem nota como são lindas e significativas em nossas vidas.


Uma garota bonita vestida como quem vai a uma festa  parou em frente a porta aberta do meu atelier enquanto eu trabalhava entâo com um geito de isopor se derretendo no thinner perguntou se eu sabia para que lado ficava o centro.
 Não entendi muito bem a pergunta e tomando o maximo cuidado para não perecer grosseiro lhe devolvi o ponto de interrogação.
- Depende qual o centro que procuras? Na outra quadra tem um centro espírita, mais adiante tem um centro de saúde e...
- Não, não eu quis dizer o centro da cidade!
- A bom. O centro da cidade fica no fim da linha daquele ônibus que acaba de dobrar a esquina, se andares rápido até a parada que fica no meio da quadra talvez...
 Ela cortou minha frase no meio e isso sempre me deixa meio irritado, porém dessa vez não me importei o show que se seguiu valeu.
Vi seus olhos negros se arregalarem para o veículo que se aproximava rápido, nesse momento a chiqueza foi para o espaço e sem sequer me agradecer pela informação deixou a compostura de lado e largou fincado, como se dizia nas corridas de cavalos. Usando a bolsa como um pendulo para compensar o desequilíbrio de correr sobre os saltos, ela dava a impressão de tentar se segurar no vento pra não cair.
Desabalada correria para pegar um ônibus, o tro-troc de seus saltos no asfalto foi abafado pelo barulho do ônibus passando por mim, os dois sumiram na esquina. Foi então que no meio da rua, sobre o asfalto sujo de óleo e poeira algo chamou minha atenção, estava caída como uma vitima daquele estrés  todo a echarpe de um branco imaculado que ela usava nos ombros. 
Juntei-a do chão era mesmo uma linda peça, a seda mais macia e brilhante que eu já pegara em minhas mãos calejadas, e nas bordas, tinha um delicado brocado tipo aquelas rendas que se encontra no Ceará.  
Então pensei. Vou guardar talvez ela volte para buscar,


- Xi não vi que estava com as mãos sujas de tinta vermelha, será que ela vai se irritar com essas manchas?


quinta-feira, 3 de julho de 2014

quarta-feira, 30 de abril de 2014

RETOQUES


Estava aqui retocando essa pintura que fiz nos fundos da casa da minha Irmã alguns muitos anos atrás então aconteceu dessas coias que só a essência da arte pode nos proporcionar por ter o poder de despertar coisas adormecidas dentro da gente. Lembrei desses momentos felizes, das vozes infantis dos meus três sobrinhos e dos meus dois filhos ecoando pelo quintal ensolarado por um dia de verão. Senti um aperto no peito uma saudade enorme uma vontade chorar sem explicação quando deveria ser a o contrário. De repente as crianças cresceram foram viver suas vidas maravilhosamente independentes de nossa onipresente tutela com exceção do Lennon, ele perdeu a sua. O vácuo deixado por sua ausência é enorme e começo a entender que nunca haverá um consolo, o que se tem nunca será o suficiente mas é o que temos para o momento, lembranças de dias ensolarados dos vinte e oito verões que passamos juntos.

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